Todo texto, por mais impessoal que seja, projeta uma imagem de seu autor. Para especialistas da linguagem, no entanto, controlar essa imagem deixou de ser sonho exclusivo dos escritores profissionais e virou objeto de desejo generalizado pelas necessidades de comunicação numa economia cada vez mais global, digitalizada e despersonalizante. Para Moacyr Scliar, autor do romance "Manual da Paixão Solitária", livro do ano no prêmio Jabuti 2009, a formação de um caráter por escrito resulta de uma combinação de fatores.
- Autores e autoras não decidem que espécie de estilo terão. Isto não é o fruto de uma decisão consciente, vai brotando espontaneamente, como resultado de um background psicológico e cultural, do gênero escolhido e de outros fatores.
Na literatura, avalia Scliar, são mais evidentes as condições de formação de um estilo.
- A consolidação do estilo é o resultado da maturidade do escritor, que a partir daí pode ser reconhecido à vezes num único parágrafo. Guimarães Rosa, por exemplo, é único, e o mesmo podemos dizer de um Kafka, de um Drummond, da Bíblia - pondera Scliar.
Mapear os elementos que compõem a "personalidade" de um texto não só na literatura, no entanto, é tarefa complexa, tal o número de variáveis envolvidas. Mas a impressão que se tem do conjunto, seja ele uma mensagem a um amigo ou um relatório de trabalho, é o que conta. Para Alerte Salvador, que junto com Dad Squasiri publicou "A Arte de Escrever Bem" (editora Contexto), a extensão das frases, bem como a escolha de palavras, é um dos aspectos que mais salta aos olhos na definição de uma voz própria por escrito.
Dentro do que fora dito, principalmente, pelo Moacyr Scliar, é muito importante reconhecer alguns pontos bem relevantes no que diz respeito à construção da personalidade no ato de escrever. São eles: a "Impessoalidade", a "Apropriação", a "Imitação" e/ou o "Afeto investido".
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