Um espaço para discutir sobre os ideais da educação libertária, metodologias de aula interessantes e eficazes, música, literatura e, é claro, sobre a importância de formar cidadãos e cidadãs que pensam!
Se entregar às coisas novas é algo encantador, mas temoroso. A primeira vez nos intriga, nos assusta, nos põe em condição de vítima de algo que nem sabemos direito o que é. É assim que me sinto ao compartilhar com vocês um poema de minha autoria que trata de um dos temas que mais defendo e debato, que é o respeito à diversidade cultural. Está ruim, provavelmente, mas espero que alguém veja com calma cada palavra que o compõe, pois apesar de não ser um Ferreira Gullar ou um Manuel Bandeira da vida, creio que algo seja "aproveitável" dos versos que se seguirão. A vocês, meus queridos!
TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS
Negros, amarelos, índios, vermelhos e brancos.
A diversidade está na cara, está estampada na alma
O que, então, justifica a dor da segregação?
O pesar das mortes por preconceito, racismo e discriminação?
Será a maldade intrínseca e humana de cada um
Ou a ignorância e a falta de amor de um por um?
O homem que é a obra prima de um Deus
É o mesmo homem que faz do paraíso o inferno
Que inverte os valores e as virtudes
Em detrimento dos absurdos e das disparidades
Num mundo onde poder e dinheiro valem mais
Que a vida de milhões de crianças que morrem sem paz
"Como uma professora e 150 adolescentes usaram a escrita para mudar a si mesmos e o mundo a sua volta"
Me arrepio sempre que penso em "Escritores da Liberdade", digo o filme. Baseado no "Diário dos Escritores da Liberdade", que infelizmente só possui edições em Inglês, Alemão e Espanhol, o filme "Escritores da Liberdade" é uma das coisas que todo aluno e todo professor devem ver antes de morrer. É tudo tão genial! Alunos cheios de problemas, gangues, descaso das autoridades escolares, discriminação, violência e alguém proposto a mudar toda essa realidade. A professora Erin Gruwell chega em uma escola com estudantes hiperproblemáticos para dar aulas de Língua Inglesa e para os alunos ela não passa de uma branquela que acha que vai mudar a vida deles e entra na sala de aula todos os dias sorrindo com cara de "I'm sweet and I care about you"*.
Estimulando os alunos e alunas por meio da leitura de livros como"O diário de Anne Frank", Gruwell desperta um grupo de adolescentes fadados ao fracasso e à morte. Eles passam a entender que não é através de segregação e luta por poder que eles terão voz no mundo em que vivem. Pelo contrário, isso acabaria silenciando a todos. Aulas dinâmicas e voltadas à reflexão e ao pensamento, principalmente, moldaram as "crianças problemáticas" e formaram jovens capazes de seguir em frente e dar um "cala a boca!" naqueles, como a coordenadora da escola, que viam nos alunos brancos a salvação educacional e nos negros, latinoamericanos e asiáticos a perdição educacional.
Enquanto aluno e professor, posso dizer do quão inspirador o filme foi pra mim, pois só me deu mais vontade de continuar ensinando e tentando, mesmo diante de obstáculos e mais obstáculos, mudar o mundo e formar pessoas que amam literatura e compreendem qual a importância da educação e de suas existências, o qual só cabe a elas mesmas descobrir. Educar no Brasil requer trabalho, e trabalho árduo, e o pior é que nem todo mundo está disposto a trabalhar realmente. "Por que ajudar eles quando posso viver minha própria vida?"
Uma ideia da Professora Gruwell para aproximar-se dos seus alunos, ganhar sua confiança e respeito e, ainda, tentar ajudá-los e entendê-los foi o diário. Ela entregou um caderno para cada um dizendo que eles deveriam escrever lá tudo sobre a vida deles: problemas na escola, na família, namoros, amigos, etc. Não daria nota por aquilo, pois "não poderia pontuar a verdade", mas se alguém quisesse que ela lesse sobre eles deveria deixar o diário em um armário, ao qual só ela teria acesso ao fim de todas aulas. É brilhante o resultado disso no filme, no livro e na vida real em si. Digo vida real, pois apresentei a proposta para uma das minhas turmas, onde percebi que os alunos viviam em conflito e tinham baixo rendimento acadêmico. Primeiro, fiquei feliz com a confiança que eles tinham em mim, pois aqueles que aderiram à proposta me trouxeram os diários rapidamente. Li todos, li tudo. Escrevi pra eles, conversamos juntos. Hoje, vejo o quão grande é a tarefa de educar, bem mais do que pensava. A turma em questão tem evoluído e percebo que os laços entre mim e eles têm se estreitado. Os diários não são "coisa de filme", são reais e eficazes. Proponho, então, que todos possam escrever e instigar seus alunos e alunas a escreverem, pois é aí que mora a liberdade.
*A expressão "I'm sweet and I care about you" significa "Eu sou doce e me importo com vocês" e foi retirada da versão original do Diário dos Escritores da Liberdade.
Compre o filme através deste link: http://www.siciliano.com.br/produto/1996863/escritores-da-liberdade-dvd4/1996863?ID=BD7FBE6B7DA0B041335250822&FIL_ID=102
José Saramago, um homem de opinião forte e marcante, apesar de ter deixado o nosso mundo, nos deixou uma excelente bibliografia em língua portuguesa, que trata, como nenhuma outra, as questões mundanas, os impasses do homem e a ignorância humana, por exemplo. "O Caderno" foi um de seus últimos trabalhos antes de falecer, e é resultado da junção de todas as postagens publicadas em seu blog, de setembro de 2008 a março de 2009. A obra é composta por textos curtos e diretos, que expõem nada menos que as reflexões de um ícone da literatura portuguesa e mundial sobre as questões que nos cercam e exercem influência diária em nossas vidas. Com a linguagem de sempre, seca e chocante, Saramago nos põe em "O Caderno" diante da nossa incompetência em olhar e ver o que os "grandes" vêem fazendo em nome das ditas "ética" e "democracia". Este foi o primeiro título literário que indiquei a vocês e espero que alguns, ou alguém, possam ter se dado o prazer de se deleitar sobre esta leitura. José Saramago se lê uma vez e só poderão se suceder duas coisas: amar ou odiar. Ou você entende que o mundo é sujo e as pessoas também e tudo isso precisa de mudança ou pensará que aquelas são palavras de um velho gagá que já perdeu o fio da meada do mundo literário e precisa mais é tomar umas aulas de "temas teens" com a Meyer, por exemplo. Caso alguém tenha se dado a tal prazer, por favor comente por aqui. Espero poder compartilhar mais das minhas experiências, enquanto leitor, com vocês. E fiquem de olho, pois a indicação da semana que vem já está no ar!
P.S. - Queridos seres humanos, o meu comentário sobre o livro/filme da semana sempre será feito quando este sair da estante virtual para dar espaço às novas indicações. Sugestões são sempre bem vindas, vale lembrar! :)
P.S. 2 - Vocês podem adquirir, pelo preço mais viável na internet, o livro "O Caderno", distribuído no Brasil pela Companhia das Letras, através deste link: http://www.walmart.com.br/Produto/Livros/Literatura-Estrangeira/Companhia-das-Letras/82806-O-Caderno.aspx
O tão comentado, discutido e estressante Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ganhará nova edição nos dias 6 e 7 de novembro de 2010. Vejo na "prova" que é proposta aos alunos de Ensino Médio, principalmente, não uma expressão de educação e aprendizagem, mas uma declaração clara do fracasso pelo qual as relações educacionais brasileiras vêem passando. É difícil de engolir, mas baixar a cabeça e ficar comentando do quão importante, educativo e eficaz é este tal exame é dizer que ao invés de jovens pensantes e críticos, queremos robozinhos com controle remoto para fazer reais os desejos mais podres de uma sociedade corrompida. A questão é que não é com um verdadeiro "atropelo" cognitivo, isto é, algo como "tirania cerebral", representada pelas infindáveis questões objetivas de cada área do conhecimento que o nível educacional de nosso país se elevará. Há aqueles que acreditam no belo argumento de "contextualização" pregado pelos mentores do exame, mas cabe lembrar que tudo tem seu lado positivo e negativo. Nesse caso, será realmente eficaz aplicar quase 100 questões contextualizadas sobre determinados assuntos e cobrar do estudante total domínio psicológico e cognitivo em cerca de 4 horas?
Venhamos e convenhamos, nossa educação caminhou nos últimos tempos, mas ninguém é vendado (será?) a ponto de não ver que os nossos alunos de Ensino Médio, em sua maioria, não são preparados durante os 3 ou 4 anos de educação que recebem nessa etapa de suas vidas para uma avaliação de tal gabarito. É uma prova perfeita para alunos imperfeitos, digamos. Com isso, não podemos continuar achando que o ENEM, mesmo com seus aparentes benefícios, é um grande feito na história da educação brasileira. Discordo muito disso e a não ser que a organização do exame reveja sua maneira/metodologia de realmente avaliar os conhecimentos obtidos pelos alunos durante o Ensino Médio sem torturá-los, literalmente, não tenho sequer a remota vontade de mudar de opinião. Já ouviram algo do tipo "quem cala, consente!"? Pois é, enquanto os estudantes só "aceitarem" coisas sem pensar sobre elas, o negócio que chamam de que mesmo? Ah, educação! Isso aí vai estar longe dos ideais libertários.
Sou um estudioso novato na Literatura, é tanto que ainda não tenho uma única linha de pesquisa definida. Aprecio o estudo mútuo e sem recortes de todas as vertentes literárias, desde as leituras clássicas que nos remetem a escritores como Machado de Assis, Eça de Queiróz e José de Alencar, até a pura nata da contemporaneidade, como José Saramago, Mia Couto, Lya Luft e Paulo Lins. A palavra escrita é algo tão belo e vasto, interpretativamente falando, que estaria cometendo um crime contra meus princípios em ler apenas “tal autor” ou “tal temática”. Gostaria de questioná-los a despeito de suas posições definitivamente acadêmicas e restritivas no que concerne aos livros da série Harry Potter, de autoria da escritora britânica J.K. Rowling.
É interessante vosso posicionamento, pois são inúmeras as pessoas que vão de encontro à tão primorosa e fantástica obra da literatura contemporânea. Não creio que os livros Harry Potter não possam ser comparados, em termos de prazer literário, à Gabriel García Marquez ou Murilo Rubião. Penso que esta afirmação goza de um preconceito implícito e mascarado no tocante às obras literárias que têm um bom rendimento de vendas ou que, simplesmente, viram filmes de bilheterias gigantescas. Pergunto-me sobre o que, segundo o senhor e outros tantos acadêmicos e professores de Línguas, deixa autores como Dostoiévski, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Walt Whitman e Herta Müller em uma dita “aura de plenitude” no campo literário, já que percebo quase que automaticamente ao ler cada um deles que seguem linhas totalmente distintas. Tomemos como exemplo Fiódor Dostoiévski e Walt Whitman, um russo e um norte-americano, um defensor da linguagem forte, direta e chocante e o outro mais intimista, subjetivo e reflexivo. O que há de semelhante, além da qualidade narrativa e os temas tratados? Qual o elo de ligação para o céu dos autores perfeitos e seus livros mais perfeitos ainda?
Em se tratando dos livros da série Harry Potter, creio que são tão belos quanto, por exemplo, “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago. Não penso que com tal afirmação eu esteja dizendo bobagens, pois pelo contrário posso defender minha opinião com argumentos simples e eficazes. No livro de Saramago que ganhou o Nobel há uma tensão clara do início ao fim da obra, que prende o leitor em seu entorno de suspense, sofrimento e retaliação reflexiva. Em Harry Potter e a Pedra Filosofal, por exemplo, no capítulo 17, “O Espelho de Ojesed”, nos deparamos com uma das metáforas mais lindas que tenho lido nos últimos anos: a dos desejos internos do homem. Não me refiro a nenhum fascínio por dinheiro ou dominação do globo, até porque no livro fica claro que cada um que olhar de fronte o espelho se verá como deseja realmente ser. Saramago certamente diz isso em “Ensaio sobre a Cegueira”, mas duvido muito que com toda a magia e destreza que Rowling faz em “A Pedra Filosofal”. A comprovação está no seguinte: leia-se um trecho de Saramago e um trecho de Rowling para uma criança e vejamos que mensagem será mais bem entendida. Ora, qual é o objetivo de falarmos uma ou mais línguas senão o de nos comunicar? Quando este objetivo é inatingível não há boa literatura que dê jeito.
Para tratar de morte, por exemplo, logo nos dois primeiros livros da série, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e “Harry Potter e a Câmara Secreta”, a autora usa elementos simples e impactantes que persuadem o leitor quase que imediatamente. Desde a primeira história, mais especificamente no capítulo “O menino que sobreviveu”, já nos pomos de frente à situação do pobre Harry, órfão e sem saber que seus pais morreram pelas mãos de um bruxo das trevas, que por sinal, havia tentado matá-lo também. Gosto bastante da atual Literatura Marginal, mas não vejo jeito de ensinar sobre a perda das pessoas que amamos a crianças ou leitores de primeira viagem com um trechinho de “Cidade de Deus”, do Paulo Lins.
Não vejo “Harry Potter” como um simples fenômeno mercadológico e nem J.K. Rowling como uma pobre mulher que teve sorte de escrever uma história que agradasse. Ela é tão fantástica e maestral quanto a série que escreveu. Tratar o amor, o bem, a amizade, a coragem e a morte em livros aparentemente infantis é algo que me comove enquanto leitor e que ficará guardado em memória por tempos incontáveis. Os valores humanos nunca estiveram tão em alta para mim como nesses livros. É comparável a Tolkien e o “Senhor dos Anéis” e às “Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis, séries tão mágicas quanto Potter que também já sofreram em suas épocas de lançamento o mesmo desentendimento de temas pelo qual o senhor passa agora em relação a Harry Potter. Pensemos juntos: a “moda” do momento é a literatura marginal e toda sua carga de denúncia social. Mas será que depois do sucesso de “Cidade de Deus” nas telonas, outros escritores não passaram a pensar mais na disponibilidade de mercado do tema do que na própria denúncia social?
Gostaria que repensassem suas posições em relação a este tipo de literatura, não só Harry Potter, mas também autores como Dan Brown, Stephenie Meyer, Rick Riordan e Nicholas Sparks. Todo livro tem uma história e todas elas merecem ser lidas. Cada livro é uma amizade, pense nisso. Sou fã inexorável de Edgar Allan Poe, Saramago, Mia Couto, Ondjaki, Orwell, Foucault, Hall e Paulo Lins. Mas não podemos nos prender a noções preconcebidas, estereotipadas e preconceituosas sobre a literatura. Dessa forma, ela não salvará, me perdoe Clarice. Assim, nos levará à morte.
"A literatura salva", já dizia Clarice Lispector, grande entusiasta das letras. Morrerei em defesa de tal propósito, de tal missão. Ensinar as belezas e maldades, virtudes e desvirtudes e os demais paradoxos que a vida nos propõe viver é algo tão belo e motivador. E toda a magnitude do ato se renova quando se utiliza a literatura para falar disso. Sou muito jovem ainda para saber todas as técnicas, teorias e fundamentos da prática docente. Mas creio que já tenha o principal, que é amor pelo que faço. Por vezes, todas as chateações e mágoas familiares e acadêmicas são sanadas quando me ponho na companhia dos meus alunos. É, no mínimo, intrigante tal sensação, tendo em vista que minhas crianças do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II têm uma péssima mania de falar muito alto.
Eu devoto muito de mim para eles, porque acredito que estas são sementes que darão belos frutos mais tarde. E a literatura é minha aliada nessa batalha, o que tenho comprovado a cada dia e cada minuto, com coisas como as que lhes apresentarei logo abaixo:
"Há pouquíssimo tempo tive a oportunidade de desfrutar de uma excelente leitura, que me fez rever todos os meus conceitos, tanto sobre o real, como também sobre o imaginário e isso só foi possível graças a uma pessoa em especial. Por isso, quero aqui deixar escrito meu muito obrigado a esse ser de luz, que mesmo eu não merecendo nem agradecendo, não se deu por vencido, mas ao contrário do que eu imaginava me deu, talvez, a maior alegria de toda a minha vida. 'As Crônicas de Nárnia' não é apenas um livro, é o caminho para a realização do meu maior sonho. [...]"
Estou em estado de choque até agora, porque nunca esperava escutar tais palavras de ninguém. "Ser de Luz". Meu Deus, quando eu li isso fiquei um momento sem poder dar continuidade ao resto do texto, de tão impactado emocionalmente que estava. Pode soar estranho para alguns tanta "comoção" de minha parte, mas não há outro jeito de lhes falar o que passei, pois indiquei o livro em sala, trabalhamos juntos, organizamos exposições para a comunidade escolar e, enfim, quando peço (aos alunos) que descrevam em poucas palavras suas experiências como leitores das crônicas de C.S. Lewis me deparo com isso. Amanhã, irei abraçar a esta aluna (sim, foi uma menina do 9º ano) e agradecê-la pelo que ela me fez com suas palavras. E, certamente, direi do quão feliz estou com ela. Não pelas palavras em relação à minha pessoa, simplesmente. Mas por já poder, tão jovem, compreender o real caminho da "salvação".
Gostaria de compartilhar com vocês que se dão ao trabalho de ler o que escrevo por aqui uma grande alegria que tive recentemente. Duas palavras me vieram à mente logo de imediato: "orgulho" e "aprendizado". Refiro-me à premiação em 1º lugar que grandes pessoas com as quais convivo desde 2008 ganharam durante a 3ª, se não me engano, Semana de Ciência e Tecnologia do IFRN/Natal-Zona Norte que ocorreu há uma semana. O trabalho exposto em forma de pôster arrebatou a atenção e curiosidade dos avaliadores e visitantes, o que só vem a justificar o talento intrínseco em cada um dos alunos do IFRN/Ipanguaçu, principalmente, quando estes, por uma ocasião do destino ou simples coincidência, estudam na badalada, conhecida e um tanto bagunceira, turma do 3º período do Curso Técnico e Integrado em Agroecologia do turno matutino. Estou, de fato, muitíssimo orgulhoso por vocês, meninos! A vitória de vocês só me mostra que o aprendizado e a educação são a porta para um mundo melhor e menos corrompido. Parabéns, Adria, Mariana, Rafael e Tereza!
ATUALIZANDO: Gostaria de registrar também meus caros e honrosos parabéns (e, certamente, desculpas pelo atraso) ao meu querido amigo Caíque e ao meu colega Leandro Ismael. Parabéns, meninos!
Acabo de acreditar que depois dos 18, o tempo realmente passa sem nem sequer nos dar a chance de perceber isso. É interessante estar falando de como o tempo transcorre ou de como a vida é efêmera, o que requer nosso aproveitamento máximo de todas as situações, pessoas, amores, desamores, livros, músicas e filmes que venham a passar durante nosso tempo pelo chão terráqueo e humano. Estou completando 19 anos, mas minha mente teima em me persuadir de que tenho bem mais. Estranho, não?
Obviamente, conheço uma série de jovens que estão na transição dos 18 para os 19 anos, assim como eu. Porém, não vejo quase nenhuma semelhança entre a maioria deles e eu. Eu sou do tipo que senta sempre sozinho em ônibus, não está nas festas mais badaladas da região e não é, e creio que nunca serei, nenhum ícone de adoração das garotas. A questão é que minhas verdadeiras companhias são os personagens dos livros que leio e filmes que assisto, digamos. Vivo em conversas com outros seres em outros mundos, imaginando- me, por exemplo, dentro da Escola de Magia de Bruxaria de Hogwarts ou vivendo nos tempos em que Galileu Galilei fora alvo da perseguição e da tirania da Igreja Católica. Dou muita risada do nada só por lembrar dos comportamentos nada éticos, mas muito engraçados, do Charlie ou do Alan, em "Two and a half men". É assim, e acho que não tem mais jeito. Já me entreguei a esse mundo e agora é daí para mais longe. Salvem-se, é claro, as excessões "humanas" com as quais convivo, que são, em sua maioria, meus educadores, alunos e amigos de loucura.
São 19 anos que me soam como 29. Passaram rápido, digamos. Mas me apresentaram a coisas e pessoas que até os olhos mais treinados duvidariam ao ver. É aquela questão: o importante não o quanto se vive, mas como se vive.
Para os que leram o post anterior e não conhecem a canção a qual me referi, ou simplesmente para aqueles, como eu, que são fãs de carteirinha do rock da Pitty, aqui vai um rápido comentário sobre o videoclip de "Fracasso".
Maquiagem borrada, discurso de fracasso e eu lírico triunfante. É assim o vídeo da música "Fracasso", de Pitty. Vestida como "viúva dark", com plumas, véu e espartilho, a baiana usa a arte da música e o tom de revolta, que só o rock tem, para discutir sobre a ideia de fracasso. Ela escarna a questão a fundo, descrevendo personalidades, atitudes e ideologias das pessoas que desistem fácil. O interessante é que a letra trata de um tema que envolve emoções e sensações no mínimo incômodas de ouvir, o que é o caso do fracasso. Porém, o eu lírico da canção está arrasando! Pitty demonstra em sua interpretação o puro triunfo, o que dá a impressão de a vitória estar escrita na cara dela. E alguns podem questionar-me por tal comentário, dizendo que uma coisa não tem nada de semelhante à outra. Mas atenção às confusões. O eu lírico triunfante é o que DIZ sobre o fracasso e não o que ESCUTA o que foi dito.
Só para não perder a prática, podemos criar um paralelo entre a maquiagem borrada de Pitty no vídeo, um dos aspectos mais legais da produção, ao fracasso das relações humanas, pessoais e, é claro, educacionais. É a forma forte com que ela se "borra" toda que me remete de imediato à uma forma de revolta contra tudo que há, em detrimento de tudo que queremos.
Baixe a música aqui: http://search.4shared.com/q/1/fracaso
Assista ao vídeo aqui: http://www.youtube.com/watch?v=gGbrYw7Lf_c&ob=av3e
Por curtir bastante algumas bandas de rock nacionais e internacionais, comecei a relacionar as letras de algumas músicas às relações que ocorrem dentro da educação. Inicialmente, achei meio impensável, mas no fim das contas acho que deu certo.
Tomemos como base a canção "Fracasso" da cantora e compositora baiana, Pitty. "Tudo que há!" para ilustrar alguns aspectos da educação brasileira e dos protagonistas da mesma. Vejamos um trecho dela:
"O que trago sobre os ombros é meu e é só meu
Sustento sem implorar a benção e o pesar
Mais vil é desdenhar do que não se pode ter"
Pergunto eu, esses versos não ilustram de maneira maestral (do verbo "que massa!") um dos embates atuais que ocorrem dentro do campo educacional? "Ser ou não ser professor? Eis a questão". Como já fora comentado em um post anterior, quem escolhe ensinar é alvo certo de críticas e chacotas de todo o tipo, já que só um "doido" iria para uma sala de aula de escola pública, cheia de crianças problemáticas, fingindo que vai ser a "mudança" na vida delas. É muito fácil, e é o que acontece mais, as pessoas enxergarem apenas os pesares de tal tarefa, sem sequer propor uma avaliação das "bençãos". Nem vou começar a listar a que bençãos me refiro, pois passaria um tempo infindável fazendo isso. Basta apenas que eu diga que, apenas pelo fato de decidir doar parte de seu tempo ao ofício de ensinar e aprender com o próximo já é por si só algo digno de aplausos. A história do "mais vil é desdenhar do que não se pode ter" faz o tipo das pessoas medrosas e egoístas, que incapazes de ensinar algo de bom ficam só na ofensiva, tentando destruir sonhos, na maioria das vezes. O ruim é quando essas pessoas são professores! Ou melhor, pessoas que concluíram suas licenciaturas (quase) forçadas e hoje estão em sala frustradas e sem quaisquer perspectivas de vida, nem pra elas e muito menos para os alunos delas. São profissionais (será?) da alienação, dos problemas, da mesmice e do "nada dá certo!". Nunca estão dispostas a mudar, pois cada crítica que recebem leem como afronta, o que as torna sempre rancorosas e incapazes de ver além do próprio sonho de consumo: aposentar-se e dar o fora do cerco de alunos problemáticos. É doloroso ver tudo isso e, às vezes, não poder dizer tudo o que se tem vontade para essas pessoas. Principalmente, quando se tem amor pela educação.
"Vive tão disperso, olha pros lados demais
Não vê que o futuro é você quem faz
Porque o fracasso lhe subiu a cabeça"
Esta estrofe da música é a que esclarece o debate todo. Não quero parecer injusto com os professores, dando a eles toda a culpa de a nossa educação crescer a passos arrastados. Sei muito bem que os salários pagos, junto aos benefícios (quando há algum) não são lá essas coisas e isso contribui para o "banho-maria" em que muitos estão submersos. Mas devemos desistir dos nossos sonhos por isso? Pensar que os nossos alunos é que devem pagar pelos erros que não cometeram? Decretar fim ao sonho de uma educação de todos e para todos? Não, não e não! Se estiver sendo incoerente, que seja! Não me importo, pois continuarei a acreditar que com professores, diretores, supervisores, secretários, enfim, profissionais fracassados no sentido de lutar pelos ideais de uma educação libertadora não iremos evoluir daqui pra lugar nenhum. Assim, é importante que essas pessoas sejam "acordadas" e que alguém diga para elas "Oi? Por que você está aqui mesmo, hein?"
Eu quero e vou continuar a crer que a educação é o caminho de salvação para uma sociedade corrompida, alienada e desigual como a contemporânea. O fracasso não vai subir a minha cabeça.
In the course of eight centuries, Riga, the capital of Latvia, has developed from a small settlement to a large metropolis with nearly one million inhabitants. In the very heart of the city, near the bank of the River Daugava, lies the ancient part of the city, Old Riga or Old Town. In the city plan it looks like a small field but it is actually the place where the history of Riga begins. Every house, street and square, even every cobble-stone holds historical evidence. Old Riga presents a unique cultural value, and the historical centre was registered on the UNESCO World Heritage List in 1997.
Riga was founded in 1201 when Bishop Albert moved his residence from Ikskile, a nearby twon, to a place near the Daugava estuary at the River Riga also called Ridzene. In the 12th century this territory already contained settlements of the ancient Latvians, the Livs and the Cours. The city got its name from the River Riga wich later was filled up with rubbish and sand.
Old Riga was seriously damaged by the Second World War, and the historical centre was heavily ruined. During postwar years, the old buildings were restored, and nowadays Old Riga is still retrieving its architectonic values, new features emerging alongside those of the ancient past.
É interessante a lógica do "pensar", se é que se pode atribuir a isto uma "lógica".
Conversando com alguns colegas sobre uma série de aspectos da escola onde todos estudamos, o IFRN/Campus Ipanguaçu, cheguei, junto a uma das minhas grandes inspirações filosóficas, Jailma, à conclusão de que nos Institutos Federais do nosso Estado, e certamente de todo o Brasil, não existiam cursos técnicos que contemplassem quaisquer ciências humanas, como Linguística, Literatura, História ou Filosofia. Ao levantar essa questão não tinha em mente o quão "polêmico" o negócio seria. Quer dizer, acho que tinha, apenas não queria explicitar de imediato!
Logo que o debate foi proposto, alguns colegas saíram logo com a seguinte justificativa, limpa e seca, de que o Instituto Federal não aderia a este tipo de curso porque eles não tinham nada a contribuir para o desenvolvimento da região, no caso, a nossa. Peraí então! Quer dizer que em relação àao estudo da Filosofia, por exemplo, as pessoas da nossa região não precisam pensar? Não devem desenvolver senso crítico sobre as questões que as rodeiam e têm influências diretas e indiretas nas suas vidas?
Outro argumento dos coleguinhas foi que: "O Instituto Federal não tem interesse em questões sociais, pois seu objetivo é proporcionar desenvolvimento econômico pessoal, em primeiro plano, e depois regional." Nesse ponto da conversar, eu e minha amiga, ficamos "passados e engomados em Cristo", tendo em vista que esta não é e nunca foi a visão dos IF's. É tanto que em todos os cursos regulares oferecidos fica bem claro que eles serão "técnicos" E "integrados". Integrado a quê? Ora bolas, claro que à sociedade, ao meio em que vivemos! Estou certo de que formar robozinhos programados para serem os melhores das áreas de Informática e Agroecologia, por exemplo, não é o objetivo dos meus professores no Campus Ipanguaçu, pelo menos. Se há uma coisa da qual me orgulho é do que tenho aprendido por lá. Eu, assim como uma série de outras pessoas, tenho muita sorte de poder conhecer educadores visionários e pensantes e não simples "pessoas" que chegam em sala só falando e falando, sem nem sequer mostrar o sentido de tanto discurso na nossa vida, seja ela acadêmica, pessoal ou profissional.
Vivemos em uma região onde as pessoas têm uma forma de pensar muito arcaica. Em outras palavras, cada um só quer saber do próprio umbigo. Essa é uma questão a ser discutida, pensada, articulada. Acho que tem uma relaçãozinha dos "prós" com os objetivos das ciências humanas, a priori, não acham? "Para bom entendedor, meia palavra basta" é uma frase conhecidíssima. E muito verídica, por sinal. Então, vejamos... Ah, lembrei! Não podemos pensar em uma educação libertária lecionando um monte de "teoria" que não se coloca na "prática". Do pensar, ressalto. Se não for dessa forma, infelizmente estaremos fadados a séculos e mais séculos de forró de plástico e axé music (E só!) por estas bandas, onde Sartre, Aristóteles, Hobbes, Sócrates, Nietzsche e Heidegger serão ideias longínquas e (quase) inatingíveis.
Só para constar, os meninos do "contra" na conversinha são pessoas das quais gosto! A discussão surgiu e discutimos. E só. Eles têm a opinião deles e eu e Jailma, no caso, a nossa. É normal, né?
Mas que fique claro! A relevância de cursos técnicos na área de humanas é clara. Por isso, vejo como uma proposta a se pensar para o Instituto Federal. Se "pensarmos" bem sobre o assunto poderemos ver que a nossa atual sociedade e seus problemas nos remetem à uma causa principal: falta do pensar.
Quero dizer que, se queremos uma sociedade inclusiva, sem desigualdades, onde todos possam gozar de benefícios iguais, ou ao menos semelhantes, precisamos começar a aprender e ensinar a pensar. Não pensar apenas em como resolver sistemas de equações, mas pensar em como as relações pessoais, econômicas e ambientais, por exemplo, ocorrem em nossa sociedade. Ou simplesmente, pensar sobre qual o seu papel por aqui.
P.S - Gostaria de compartilhar minha alegria em saber que minha "profecia" se concretizou! Temos, enfim, Dilma Rousseff na Presidência da República! Democracia!
Antes de escrever qualquer coisa sobre o título que propus a esta postagem, gostaria de agradecer imensamente os comentários de afeto, reconhecimento e carinho de Andréia, Bruno, Jailma e Layze. Saibam, vocês também são a causa de este espaço existir hoje. Obrigado!
É extremamente gratificante escutar das pessoas (de um grupo bem pequeno e seleto) o quão importante é o ato de ensinar! Os meninos e meninas mencionados lá em cima me causaram com suas palavras um tipo de "orgasmo cognitivo", utilizando-me aqui das expressões de uma educadora fantástica, Priscila Aliança. Bem, hoje gostaria de apresentar a vocês um dos vários resultados que tenho obtido com o trabalho de professor de Língua Portuguesa que desenvolvo na Escola Municipal Adalberto Nobre de Siqueira, localizada na zona rural do município de Ipanguaçu.
Segue abaixo o texto de Francisca Jaine Monteiro da Silva, aluna do 7º ano EF (leia-se Ensino Fundamental) II, sobre o "antigamente". Após a leitura, vocês poderão avaliar, mas não sentir o mesmo que eu (infelizmente) o que o uso das palavras pode nos render, o que a literatura guarda de proezas, sejam elas ínfimas ou gigantescas. Leiam, é só o que tenho a dizer.
“Os namoros de antigamente”
Em uma tarde dessas, estive visitando minha avó Maria Bento da Silva, que mora na comunidade de Nova Descoberta, para que pudéssemos conversar um pouco. Bem, a minha querida avó falava que as filhas dela namoravam em um banquinho de carnaúba que tinha ao lado da porta da casa dela. A situação não se assemelhava nem de perto aos namoros de hoje em dia. O moço pegava na mão da moça, se conversava muito, porque se tinha interesse em saber da vida do outro a que se amava. O cavalheiro sempre trazia uma balinha, cortesia para agradar e amolecer a sogrinha. Quando tinha uma festinha e o rapaz convidava a moça, mas isso só era depois de alguns meses de namoro, minha avó conta que sempre ia junto. Enquanto eles ficavam dançando juntos a noite toda, do outro lado estava lá em pé e de olho aberto, no pé deles, a minha vó. Ela não saía da festa de jeito nenhum, tinha que ficar vigiando os “pombinhos” para evitar e ter certeza de que eles não iriam aprontar nada. Ah, e ela ainda diz que não podia mesmo sair de perto da filha, porque se vovô descobrisse ficaria furioso! Bem, toda essa rédea curta, em minha opinião, pode ter funcionado com algumas mulheres da família, menos com uma das minhas tias, que com seus 22 aninhos de idade fugiu de casa com o namorado. Nem preciso dizer que a ira se personificou na cara de vovô e minha avó, ah, essa ficou felicíssima. Disse-me que não era de acordo com aquela “prisão” toda para com as meninas e achou isso bom para mostrar a ele que quando se quer algo, ninguém pode impedir que se consiga. Hoje, minha tia vive feliz no Mato Grosso do Sul com suas três filhas, que, aliás, já estão todas noivas. O grande amor da minha mãe, pai das meninas, infelizmente morreu há alguns anos atrás.