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sábado, 30 de outubro de 2010

A literatura negra no Brasil


Você já ouviu falar em literatura negra? E em literatura afro-brasileira? Sendo a resposta positiva ou negativa, seja bem-vindo ao universo daqueles que revelam, por meio de seus livros, o mundo de negros, negras, pretos e pretas afro – por mais redundante que isso possa parecer – existente no Brasil.

Brincadeiras à parte, quando se conversa com escritores negros de ontem e de hoje fica difícil nomear a arte que eles produzem. Como nomear essa vertente da literatura brasileira? O debate dá pano pra manga. Alguns defendem a ideia da nomenclatura “literatura afrobrasileira”, outros, a de “literatura negra”. Márcio Barbosa, coordenador do Quilombhoje, grupo de escritores paulistanos fundado em 1980, dá a sua versão sobre o assunto: “para mim, literatura afrobrasileira e negra são equivalentes, mas o termo ‘afrobrasileira’ é mais cultural, demonstra ter a preocupação de retratar a cultura brasileira como um todo”. Ser escritor no Brasil nunca foi fácil. De acordo com Oubi Inaiê Kibuko, que começou a escrever nos anos 80 e, atualmente, é editor do site Cabeças Falantes Online, “escrever sobre a negritude incomoda. O tema é contrário a uma ditadura cujo porão não deve ser aberto”. Mas, segundo ele, o movimento negro está crescendo cada vez mais e tendo continuidade com a juventude que permanece lutando pela identidade do povo negro. “Ver artistas como Akins Kinte e Elizandra Souza produzindo livros é como uma passagem de bastão”.

Uma prova deste crescimento da literatura em prol do Movimento Negro é a atual produção literária que enfoca as classes oprimidas pelas sociedade e que aborda o preconceito, em suas mil e uma faces, do ponto de vista do oprimido e não mais do opressor. São bons exemplos desta produção as obras “Cidade de Deus” (1997), de Paulo Lins, “Capão Pecado” (2005), de Ferréz, “Ninguém é inocente em São Paulo” (2006), de Ferréz, além de um vasto e rico acervo africano, que fica por conta de ícones da prosa fantástica africana como Mia Couto, Nelson Saúte, Abdulai Sila, Pepetela e Ondjaki.

Para Márcio Barbosa, o papel do escritor negro é dar testemunho da sua história e da sua cultura. “Tem que incomodar e provocar a reflexão. Tem que contribuir para um mundo melhor”, incita. Nesse sentido, o Quilombhoje, do qual Márcio faz parte, lançou, em 2008, a trigésima edição da antologia Cadernos Negros, criados em 1978 para dar visibilidade à produção de autores que não conseguiam espaço no mercado editorial. Inicialmente, a ideia da organização era resgatar a história de escritores do passado, porém, o projeto tomou forma e, ao longo de todos esses anos, conquistou espaço em lugares inusitados, como salões de baile e escolas de samba. A importância dos Cadernos para a cultura brasileira e, principalmente, para a cultura negra, é tão grande que o próprio poeta Akins Kinte começou a escrever depois que teve o primeiro contato com a publicação. “Os cadernos negros têm uma importância muito grande na minha vida”, relata ele.

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