“Agora não há outra música
senão a das palavras”. (SARAMAGO, 1995, p.290)
Não se pode falar em vida, sem falar em literatura. Entender o poder das palavras, através do poder do amor pela educação e pelos estudos da sua língua materna é uma belíssima forma de relacionar a importância de cuidarmos da vida com a necessidade insaciável de conhecer e descobrir, que é inerente a nós, seres humanos.
As palavras, junto aos sons e aos silêncios que emitem, são ferramenta da abstração humana, da capacidade de poder ver com olhos livres, o que não é o mesmo que olhar as obviedades da vida. Rubem Alves já dizia isto, quando colocava que o que mata um jardim são estes olhares de indiferença de gente sem sensibilidade. Assim, são estes emaranhados de letras, agrupados em sílabas e com unidades fonéticas que marcam sua sonoridade, que a literatura existe. A arte de tocar o lado mais humano e metafórico de cada pessoa através da graça que o ato de escrever proporciona àqueles que enfrentam o medo de jogar no papel a sua alma e nos brindam com textos sensíveis e lindíssimos é uma capacidade digna, apenas, de todos. Sim, de todos, pois tendo consciência, ou não, disso, somos pautados em sentimentos e emoções, bons e ruins. E o que é a literatura, senão a transcrição do que sentimos para pedras, pergaminhos, folhas de papel perfumadas e, com o advento das tecnologias, para as páginas da internet?
Abrir os olhos de uma criança para a beleza do mundo que a cerca é tarefa árdua em nossa vã contemporaneidade. A superficialidade das relações humanas vem crescendo e dificultando o “enxergar” das pessoas. Porém, as crianças me soam diferente de tudo isso. Elas carregam um fascínio próprio pelo que é belo, pelo que é literatura por si só. Dessa forma, ver com seus próprios olhos, que as crianças, adolescentes ou jovens respondem positivamente aos seus ensinamentos não tem preço, é impagável. Um sorriso, uma pergunta excitada, a vontade de descobrir mais junto a você, tudo configura um prazer quase divino no simples ato de estar na sala de aula.
A vida é um bem precioso e que deve ser cuidado. O problema, geralmente, é que muitos não sabem como cuidar, como cativar. Talvez, deixar-se cair no infinito universo de mundos que a leitura e os livros podem proporcionar, diante da vida superdenotativa que vivemos, seja um jeito profano e espiritual, sublime e revolucionário, de cuidar da vida. Tu te tornas responsável por aquilo que cativas, ensinou-me um pequeno principezinho dos livros. Usar a arte das palavras para gracejar a vida é cativar este bem.