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domingo, 31 de outubro de 2010

Ser Professor



Difícil? Árduo? Humilhante? São tantos os adjetivos atemorizantes atribuídos à profissão de professor que, às vezes, me pergunto o que me leva a querer exercer tal tarefa. Já pensei, é claro, que a resposta poderia estar atrelada a algum distúrbio psicológico incurável ou a alguma desilusão momentânea que, certamente, passaria com o tempo. Não passou. Hoje já sei a resposta exata às minhas velhas perguntas. É amor.
É por ele, e com ele, que nenhum comentário do tipo: “Tanta inteligência dispersada...” ou “Você quer mesmo ser professor? Médico ganha mais!” nunca me desviaram do meu verdadeiro e real destino, o de ensinar. Pode ser muita pretensão, e peço perdão se o for, mas toda a beleza do ofício de salvar vidas dada aos médicos, a justa conduta de lidar com o certo e o errado dos advogados ou mesmo a destreza de centenas de pedreiros que constroem centenas de andares de luxuosos prédios, não carregam a beleza do ato de ensinar, de educar, de ser professor. Nada é mais belo que transmitir a outras pessoas tudo o que você aprendeu e vem aprendendo, pois isso faz de você alguém útil, além de comprovar as palavras de um velho ídolo literário, Oscar Wilde, que diz o seguinte acerca da vida: “Existir é fácil, por isso há tanta gente no mundo. Viver é que é difícil.”
Ver com seus próprios olhos, “olhos livres”, que as crianças, adolescentes ou jovens respondem positivamente aos seus ensinamentos não tem preço, é impagável. Um sorriso, uma pergunta excitada, a vontade de descobrir mais junto a você, tudo configura um prazer quase divino no simples ato de estar na sala de aula.
Um bom professor é também educador. Ele não se restringe à monotonia do quadro negro e do giz como únicos e intocáveis recursos de aprendizagem. No entanto, quando nos excitamos por demais podemos sofrer com a incompreensão, e às vezes inveja, dos colegas de trabalho ou pior: não ser compreendido pelos alunos. Se toda a beleza de ensinar já foi mencionada não se pode omitir o lado obscuro desta profissão, até porque todos somos feitos de luz e trevas. Noites a fio sem dormir em busca da aula especial e criativa para tornar o estudo de regras gramaticais velhas e chatas interessante e produtivo, horas de leitura no intuito de encontrar aquele texto que faz você gritar de euforia por saber que seus estudantes gostarão daquilo, acharão legal. Quem está fora deste universo não entende. Não pode entender. Não adianta. Só o educador que é responsável por salas de aula, alunos, pessoas com as quais ele se importa é que pode falar do que sente ao se deparar com a intolerância, libertinagem e desinteresse de um aluno. Se você, leitor, é aluno faça um esforço, reconhecendo os esforços dos seus verdadeiros mestres. Não o julgue pela sua euforia em sala, pelo monte de atividades que são direcionadas para sua própria formação pessoal ou pelos horários vagos que ele por vezes ocupa. Quer saber? Ele só é um pai solitário que quer estar com os filhos. É brega, sentimental, antiquado, meloso. É ser professor.
Eu, particularmente, já fui acometido por esta doença e morrerei em demasiada felicidade se nela estiver. Apesar dos pesares, das dificuldades, atribulações e desafios diários não vale a pena jogar tudo pela janela. Não sou fraco. De tudo, só o bom fica. Apenas os momentos da mais pura e verdadeira alegria, das conquistas, mudanças e revelações. Amo o que faço e amo as pessoas para as quais faço. Será eu algum herói por amar tanto isso tudo? Não, sou apenas um professor.

Calor e democracia

Um dia um tanto comum por aqui. Nas terras mais que "calientes" de Ipanguaçu está acontecendo, assim como em todo o Brasil, a votação para presidência da república. Acabo de regressar do antro de eleitores e eleitoras que está a cercar o local onde eu também voto. Apesar de odiar os 32ºC que assolam esta cidade já às 8h da manhã, fiquei bastante feliz com as visões que tive por lá. Acredito que muita gente fez, está fazendo ou fará a melhor escolha (como apresentado no último post): o desenvolvimento, ao invés da coisificação. Exerci minha cidadania, aquela que no meio de tanta corrupção e sujeira política me dá o status de "valor" por alguns segundos até, enfim, a tecla verdinha da urna ser apertada e emitir sua sonoridade de confirmação do voto. Aproveito estas oportunidades de contato humano mútuo, ainda que esse seja muitas vezes demagogo e hipócrita, para rever rostos que a vida acaba nos afastando um pouco, ou muito. Pessoas sem influência, pessoas com influência, pessoas odiadas e até aquelas que nos odeiam sem que saibamos. Engraçado, não? Mas o bom disso tudo é poder também rir das feições desses seletos grupos em companhia de bons colegas e amigos. A eleição não é só "voto", acreditem. É muito assemelhado com um final de alguma coisa, onde todos esperam pelo juízo final.

sábado, 30 de outubro de 2010

A literatura negra no Brasil


Você já ouviu falar em literatura negra? E em literatura afro-brasileira? Sendo a resposta positiva ou negativa, seja bem-vindo ao universo daqueles que revelam, por meio de seus livros, o mundo de negros, negras, pretos e pretas afro – por mais redundante que isso possa parecer – existente no Brasil.

Brincadeiras à parte, quando se conversa com escritores negros de ontem e de hoje fica difícil nomear a arte que eles produzem. Como nomear essa vertente da literatura brasileira? O debate dá pano pra manga. Alguns defendem a ideia da nomenclatura “literatura afrobrasileira”, outros, a de “literatura negra”. Márcio Barbosa, coordenador do Quilombhoje, grupo de escritores paulistanos fundado em 1980, dá a sua versão sobre o assunto: “para mim, literatura afrobrasileira e negra são equivalentes, mas o termo ‘afrobrasileira’ é mais cultural, demonstra ter a preocupação de retratar a cultura brasileira como um todo”. Ser escritor no Brasil nunca foi fácil. De acordo com Oubi Inaiê Kibuko, que começou a escrever nos anos 80 e, atualmente, é editor do site Cabeças Falantes Online, “escrever sobre a negritude incomoda. O tema é contrário a uma ditadura cujo porão não deve ser aberto”. Mas, segundo ele, o movimento negro está crescendo cada vez mais e tendo continuidade com a juventude que permanece lutando pela identidade do povo negro. “Ver artistas como Akins Kinte e Elizandra Souza produzindo livros é como uma passagem de bastão”.

Uma prova deste crescimento da literatura em prol do Movimento Negro é a atual produção literária que enfoca as classes oprimidas pelas sociedade e que aborda o preconceito, em suas mil e uma faces, do ponto de vista do oprimido e não mais do opressor. São bons exemplos desta produção as obras “Cidade de Deus” (1997), de Paulo Lins, “Capão Pecado” (2005), de Ferréz, “Ninguém é inocente em São Paulo” (2006), de Ferréz, além de um vasto e rico acervo africano, que fica por conta de ícones da prosa fantástica africana como Mia Couto, Nelson Saúte, Abdulai Sila, Pepetela e Ondjaki.

Para Márcio Barbosa, o papel do escritor negro é dar testemunho da sua história e da sua cultura. “Tem que incomodar e provocar a reflexão. Tem que contribuir para um mundo melhor”, incita. Nesse sentido, o Quilombhoje, do qual Márcio faz parte, lançou, em 2008, a trigésima edição da antologia Cadernos Negros, criados em 1978 para dar visibilidade à produção de autores que não conseguiam espaço no mercado editorial. Inicialmente, a ideia da organização era resgatar a história de escritores do passado, porém, o projeto tomou forma e, ao longo de todos esses anos, conquistou espaço em lugares inusitados, como salões de baile e escolas de samba. A importância dos Cadernos para a cultura brasileira e, principalmente, para a cultura negra, é tão grande que o próprio poeta Akins Kinte começou a escrever depois que teve o primeiro contato com a publicação. “Os cadernos negros têm uma importância muito grande na minha vida”, relata ele.

"Desenvolvimento" versus "Coisificação": A escolha é sua!

Hoje, 30 de Outubro de 2010, é o dia que precede o "gran finale" das eleições presidenciais do nosso país. É uma data tão importante quanto a de amanhã, já que contempla os últimos momentos para que os indecisos e indecisas assumam um posicionamento ou, melhor, que os brasileiros humildes, sofridos e influenciáveis abram, enfim, seus olhos e passem a ver, ao invés de simplesmente olhar, quem realmente dará rumos desenvolvimentistas para o Brasil. Cito apenas essas pessoas porque não acredito que os magnatas, empresários, políticos corruptos, patricinhas e filhinhos de papai militantes do lado burguês do país sofrerão um choque subto de vergonha na cara e ética durante seus sonos perfeitos, em suas camas perfeitas, em suas casas perfeitas. A questão é: precisamos continuar no caminho trilhado pelo atual Presidente da República, Tio Lula, e temos obrigação de não desperdiçar nossos votos em propostas infundadas vindas de pessoas que se dizem "preparadas" para governar, pois têm "experiência" com isso.

Agora partindo de volta para o título desta postagem...

Queridos seres humanos, é até chato ver como as pessoas têm se equivocado quando o assunto é o sucessor de Lula na presidência. Fico chocado (é essa a palavra!) quando me deparo com professores das redes municipal, estadual e federal de ensino dizendo coisas do tipo: "O Serra vai trazer a educação que precisamos, enfim poderemos falar de desenvolvimento educacional!". Aí penso eu com meus botões... Eles só podem tá falando de "desenvolvimento educacional" burguês, porque com certeza o representante tucano à presidência não é fã do lema "ajudar os pobres", pelo contrário, "pobre nasce pobre e deve morrer pobre" é uma máxima mais cabível à política do doutor de quem vos falo.
Confundir "desenvolvimento" com "coisificação" é comum, mas não deve acontecer. Aliás, não pode!
De uma lado, a candidata Dilma Rousseff (PT) prega uma continuação das políticas governamentais do atual governo, mas com grandes implementações em relação à saúde da mulher e à criança pequena, por exemplo. Do outro, José Serra (PSDB) apresenta uma série de propostas que não condizem em nada com a política "psdbista", da qual já experimentamos o bastante (muito bem, obrigado) com o governo de FHC, onde a ideia de coisificação teve seu ápice.
Dar o desenvolvimento do Brasil, junto com os caminhos já trilhados em busca do fim das desigualdades sociais e raciais, em troca das ideias "coisitivistas" que giram em torno de riqueza e mais riqueza para os ricos, da privatização em massa e do bordão implícito "pobre é a escória da humanidade, a origem de todos os males sociais" é imprudente demais. Aqui, eu apelo: repensem suas escolhas.

Nós não precisamos de um país onde as desigualdades sejam novamente acentuadas, onde apenas as classes abastardas da sociedade possam ter acesso à boa educação, moradia, emprego e saúde. Sei que estamos um tanto distantes de um modelo de democracia social e racial perfeito, ou ao menos coerente, mas avançamos muito nessa questão. A realidade que vivemos hoje é outra, quando comparada com os 8 anos de estagnação e atraso que o PSDB de FHC e Serra nos proporcionou. Evoluímos, e não há como negar. Querem um exemplo próximo? Então, reflitam sobre isso: quando algum de vocês havia imaginado há 10 anos atrás que poderia existir uma escola de excelência, como o Instituto Federal (IF), na zona rural de Ipanguaçu, pequenino município do interior do sertão nordestino?

Cabe só a nós escolher: desenvolvimento ou coisificação?

Novos tempos...

10h13min - Já havia tomado a decisão a algum tempo, mas com a minha vida cheia de "turbulências" acadêmicas, profissionais e pessoais fui adiando a criação deste blog, pelo qual vos escrevo! Sendo amante incondicional e inexorável (é sério mesmo!) das letras e literatura, certamente sei do quão importante é o ato de escrever! A partir de hoje, então, escreverei por aqui nada mais que meus pensamentos, princípios e reflexões sobre temas diversos, dos quais eu tenha algum conhecimento, que envolvam principalmente o debate educacional em nosso país. A ideia deste blog não é "impor" visões particulares e muito menos dar "fórmulas prontas" de como agir em sala de aula. O propósito disso tudo é: estimular a revolução, em detrimento da paciência! Como já dizia um dos mais ilustres representantes da Literatura em Línguas Portuguesa, José Saramago, "É muito comum ouvir-se dizer da boca de políticos recém-instalados que a impaciência é contra-revolucionária. Talvez seja, talvez, mas eu inclino-me a pensar que, pelo contrário, muitas revoluções se perderam por demasiada paciência. Obviamente, nada tenho de pessoal contra a esperança, mas prefiro a impaciência." É interessante notar que na colocação do escritor há uma tendência à questão política mundial, mas aqui o viés adotado será o da educação. Mas sem medo, pessoas! Não é porque o assunto tem um certo ar (ou melhor seria 'ventania') de polêmica que não iremos nos divertir por aqui. Desde já, convido a todos e a todas a acompanharem o que vier a ser postado por aqui. Não desejarei um boa leitura, como é de praxe, até porque muitos poderão (e, certamente, irão) simplesmente ignorar o conteúdo que apresentarei por aqui. Porém, se você acredita que na educação, há libertação...