Difícil? Árduo? Humilhante? São tantos os adjetivos atemorizantes atribuídos à profissão de professor que, às vezes, me pergunto o que me leva a querer exercer tal tarefa. Já pensei, é claro, que a resposta poderia estar atrelada a algum distúrbio psicológico incurável ou a alguma desilusão momentânea que, certamente, passaria com o tempo. Não passou. Hoje já sei a resposta exata às minhas velhas perguntas. É amor.
É por ele, e com ele, que nenhum comentário do tipo: “Tanta inteligência dispersada...” ou “Você quer mesmo ser professor? Médico ganha mais!” nunca me desviaram do meu verdadeiro e real destino, o de ensinar. Pode ser muita pretensão, e peço perdão se o for, mas toda a beleza do ofício de salvar vidas dada aos médicos, a justa conduta de lidar com o certo e o errado dos advogados ou mesmo a destreza de centenas de pedreiros que constroem centenas de andares de luxuosos prédios, não carregam a beleza do ato de ensinar, de educar, de ser professor. Nada é mais belo que transmitir a outras pessoas tudo o que você aprendeu e vem aprendendo, pois isso faz de você alguém útil, além de comprovar as palavras de um velho ídolo literário, Oscar Wilde, que diz o seguinte acerca da vida: “Existir é fácil, por isso há tanta gente no mundo. Viver é que é difícil.”
Ver com seus próprios olhos, “olhos livres”, que as crianças, adolescentes ou jovens respondem positivamente aos seus ensinamentos não tem preço, é impagável. Um sorriso, uma pergunta excitada, a vontade de descobrir mais junto a você, tudo configura um prazer quase divino no simples ato de estar na sala de aula.
Um bom professor é também educador. Ele não se restringe à monotonia do quadro negro e do giz como únicos e intocáveis recursos de aprendizagem. No entanto, quando nos excitamos por demais podemos sofrer com a incompreensão, e às vezes inveja, dos colegas de trabalho ou pior: não ser compreendido pelos alunos. Se toda a beleza de ensinar já foi mencionada não se pode omitir o lado obscuro desta profissão, até porque todos somos feitos de luz e trevas. Noites a fio sem dormir em busca da aula especial e criativa para tornar o estudo de regras gramaticais velhas e chatas interessante e produtivo, horas de leitura no intuito de encontrar aquele texto que faz você gritar de euforia por saber que seus estudantes gostarão daquilo, acharão legal. Quem está fora deste universo não entende. Não pode entender. Não adianta. Só o educador que é responsável por salas de aula, alunos, pessoas com as quais ele se importa é que pode falar do que sente ao se deparar com a intolerância, libertinagem e desinteresse de um aluno. Se você, leitor, é aluno faça um esforço, reconhecendo os esforços dos seus verdadeiros mestres. Não o julgue pela sua euforia em sala, pelo monte de atividades que são direcionadas para sua própria formação pessoal ou pelos horários vagos que ele por vezes ocupa. Quer saber? Ele só é um pai solitário que quer estar com os filhos. É brega, sentimental, antiquado, meloso. É ser professor.
Eu, particularmente, já fui acometido por esta doença e morrerei em demasiada felicidade se nela estiver. Apesar dos pesares, das dificuldades, atribulações e desafios diários não vale a pena jogar tudo pela janela. Não sou fraco. De tudo, só o bom fica. Apenas os momentos da mais pura e verdadeira alegria, das conquistas, mudanças e revelações. Amo o que faço e amo as pessoas para as quais faço. Será eu algum herói por amar tanto isso tudo? Não, sou apenas um professor.